A Doce e Amarga realidade da Palavra de Deus
Esboço de Pregação Expositiva em Apocalipse 10:8-11 – E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.
Introdução de Apocalipse 10:8-11
Amados irmãos e irmãs, abram suas Bíblias comigo em Apocalipse, capítulo 10. Este livro é, para muitos, um mistério, cheio de visões simbólicas, profecias e imagens que nos desafiam. Ele foi escrito pelo apóstolo João, não em um momento de conforto e paz, mas quando ele estava exilado na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus (Apocalipse 1:9). Patmos era um lugar de sofrimento, de isolamento, um “cárcere espiritual” imposto pelas autoridades romanas.
Nesse cenário de provação, Deus não o abandonou. Pelo contrário, foi ali que João recebeu as mais grandiosas revelações sobre o futuro, a soberania de Deus e o triunfo final de Cristo. É nesse contexto de angústia e revelação que chegamos ao capítulo 10, onde João presencia uma visão impressionante: um anjo poderoso, com um arco-íris sobre a cabeça, pés como colunas de fogo, e nas mãos, um “livrinho aberto”.
A visão de João não é apenas para ele; é uma mensagem para nós hoje. Ela nos revela algo profundo sobre a natureza da Palavra de Deus e a nossa missão de profetizá-la. Às vezes, olhamos para a pregação do Evangelho como algo fácil e prazeroso, e de fato, a mensagem de esperança é doce. Mas o texto nos mostra uma realidade mais completa: a Palavra de Deus é, ao mesmo tempo, doce na boca e amarga no ventre. Ela nos convida a uma experiência transformadora que exige entrega total. Vamos entender o que essa “doçura” e “amargor” significam para cada um de nós que fomos chamados a anunciar o Reino de Deus.
Desenvolvimento
1. A Ordem para Receber a Palavra (v.8)
“E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra.”
João havia ouvido uma voz do céu antes (Apocalipse 10:4), e agora essa mesma voz, que é a voz de Deus, o instrui com uma ordem clara e específica: “Vai, e toma o livrinho”. Não é uma sugestão, mas um mandamento.
A Origem da Mensagem: O livrinho não é de autoria humana. Ele vem “da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra”, um anjo majestoso que simboliza a autoridade divina sobre toda a criação (Apocalipse 10:1-2). Isso nos lembra que a Palavra que pregamos não é invenção nossa; ela é celestial, tem autoridade e poder.
A Necessidade de Buscar a Palavra: João não hesita. Ele tem que ir e pegar. Isso nos ensina que a Palavra de Deus não cai no nosso colo sem que busquemos por ela. Precisamos ir até ela, desejar recebê-la e tomá-la para nós.
“Busquem ao Senhor enquanto se pode achá-lo; clamem por ele enquanto está perto.” (Isaías 55:6).
Você tem buscado ativamente a Palavra de Deus? Você tem um desejo ardente de se alimentar dela, de recebê-la diretamente das mãos divinas, por assim dizer? Muitas vezes, esperamos que a Palavra venha até nós, mas Deus nos chama a ir ao seu encontro.
2. A Experiência Pessoal com a Palavra: Doçura e Amargor (v.9-10)
“E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo.”
Aqui está o cerne da nossa pregação. João não apenas toma o livrinho, mas ele é instruído a “comê-lo”. Isso é um convite a uma experiência profunda e íntima com a Palavra.
Comer o Livrinho: Internalizar a Mensagem: “Comer” a Palavra significa absorvê-la completamente, internalizá-la, deixá-la fazer parte do nosso ser. É mais do que ler; é meditar, mastigar, digerir a verdade. É permitir que ela se torne parte de quem somos.
“Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos.” (Jeremias 15:16).
A Doçura do Mel: A Alegria da Mensagem: Na boca de João, o livrinho era “doce como mel”. O mel, na Bíblia, é símbolo de algo puro, nutritivo, prazeroso e precioso. A Palavra de Deus é, em sua essência, doce para quem a recebe. Ela traz consolo, esperança, revelação do amor de Deus, promessas de salvação e vida eterna.
“Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca!” (Salmo 119:103).
O Amargor no Ventre: O Custo do Reino: Mas a doçura é seguida pelo amargor no ventre. O ventre, aqui, pode simbolizar o centro de nossas emoções, de nossa vontade e da nossa vida prática. O amargor representa o custo de viver e proclamar essa Palavra. O que isso envolve?
- Renúncias: O Evangelho nos chama a abandonar o pecado, a nós mesmos, a renunciar aos prazeres mundanos que se opõem a Deus.
- Perseguição: Viver a Palavra pode trazer oposição, zombarias, perseguições e até sofrimento, como João experimentou em Patmos.
- Confronto: A Palavra nos confronta com nossos próprios erros, nos chama ao arrependimento e à santidade, o que nem sempre é fácil.
- Sacrifício: Profetizar significa compartilhar uma mensagem que nem todos querem ouvir, o que pode custar tempo, conforto, reputação e até relacionamentos.
- Referência: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me.” (Mateus 16:24).
Você já experimentou essa dualidade? A alegria profunda de entender e receber a verdade de Deus, mas também o peso, o desafio e a dor que vêm com a aplicação e a proclamação dessa verdade? Não se engane: pregar o evangelho e viver por ele é doce, mas também exigirá renúncia e sacrifício.
3. A Missão Renovada: Profetizar Outra Vez (v.11)
“E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.”
Depois de comer o livrinho e sentir suas duas facetas, João não é deixado em silêncio. A voz de Deus lhe dá uma nova comissão, um novo propósito: “Importa que profetizes outra vez”.
A palavra “importa” (do grego dei) indica uma necessidade divina, um imperativo moral e espiritual. A profecia, o anúncio da Palavra de Deus, é essencial e urgente.
A Amplitude da Missão: João não deveria profetizar apenas para um grupo pequeno, mas “a muitos povos, e nações, e línguas e reis”. É uma missão global, universal, que transcende barreiras geográficas, culturais e sociais.
“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra.” (Atos 1:8).
Profetizar: Proclamar a Palavra de Deus: Profetizar, no Novo Testamento, não significa apenas predizer o futuro, mas principalmente proclamar a Palavra de Deus com autoridade, falar em nome de Deus, seja por pregação, ensino ou testemunho.
Essa é a nossa grande comissão! Cada crente, de alguma forma, é chamado a “profetizar” (anunciar) a Palavra de Deus. Não importa quão difícil seja a situação ou quão amargo o caminho, a missão continua. Sua experiência pessoal com a doçura e o amargor da Palavra te prepara para essa missão global. Onde e como você tem profetizado (anunciado) a verdade de Deus em seu círculo de influência?
Conclusão
A visão de João em Apocalipse 10:8-11 nos convida a uma profunda reflexão sobre nossa relação com a Palavra de Deus e nosso chamado missionário.
Aprendemos que:
- A Palavra vem de Deus: Ela tem origem divina e precisa ser buscada ativamente por nós.
- A Palavra deve ser internalizada: Precisamos “comê-la”, absorvê-la em nosso ser.
- A Palavra é Doce: Traz alegria, esperança e consolo para a alma.
- A Palavra é Amarga: Ela nos confronta, exige renúncias, sacrifícios e nos prepara para o sofrimento pela causa de Cristo.
- A Palavra nos comissiona: Apesar das dificuldades, somos chamados a “profetizar outra vez”, a anunciar essa mensagem a todos os povos.
Como obreiros, como cristãos, essa é a nossa realidade. A missão do evangelho é doce porque nos revela um Deus de amor e salvação, mas é amarga porque exige de nós uma vida de entrega, negação do eu e, muitas vezes, enfrentamento à oposição. Mas é exatamente essa experiência completa que nos capacita para a grande obra de levar a Palavra aos “muitos povos, e nações, e línguas e reis”.
Você está pronto para comer o livrinho? Está disposto a experimentar tanto a sua doçura quanto o seu amargor, a fim de cumprir a comissão de Deus em sua vida? Que o Senhor nos encontre fiéis a essa missão vital. Amém.
Esboço de Pregação em Apocalipse 10:8-11 – “E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis.”
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